sábado, 26 de fevereiro de 2011

A Flauta Mágica: uma alegoria filosófica da força do bem

Mozart aos 11 anos
 Wolfgang Amadeus Mozart foi iniciado na Maçonaria em 14 de dezembro de 1784, aos 28 anos, na loja "A Beneficiência" ( Zur Wohltatigket ) em Viena, uma dentre as 57 oficinas ( 17 na Áustria, 7 na Bohêmia, 4 na Galícia, 12 na Hungria e 17 nos Países Baixos ), filiadas à Grande Loja da Áustria ( Grosse Landesloge von Österreich ). Eram apoiadas pela poderosa Grande Loja da Alemanha. A Loja "A Beneficiência" realizava suas sessões no templo de uma loja maior e mais influente, chamada A Verdadeira Concórdia ( Zur Wahren Eintracht ). A Europa do século XVIII fervilhava com os ideais humanistas. As sociedades secretas proliferavam e, entre tantas outras, as mais conhecidas eram: os Irmãos Asiáticos, os Iluminados da Baviera, o Escocesismo e a antiga Rosa-Cruz. Algumas ordens estavam concentradas nos ideais revolucionários e nas ações políticas, mas no geral, as sociedades estavam mais voltadas aos ideais da filosofia, fraternidade e, principalmente, aos oportunos tráficos de influência. A Maçonaria era uma das sociedades que mais se desenvolveram no século XVIII. Em 24 de junho de 1717, dia de São João Batista, padroeiro dos antigos maçons operativos, foi criada a Grande Loja de Londres, com a reunião de quatro lojas maçônicas, numa federação, à qual outras lojas vieram a se filiar. O objetivo era dar unidade aos ritos, usos e costumes advindos da evolução das guildas e hansas construtivas desde a Idade Média. A partir do século XVII, os pedreiros maçons aceitavam, em suas lojas esparsas e ocasionais, intelectuais, oficiais militares, nobres e outros não "operativas" em seu seio. Desde 1646, quando o astrólogo e esotérico Elias Ashmole fora aceito e iniciado em uma loja operativa de Warrington, na Inglaterra, as lojas maçônicas ou oficinas deixaram a conotação obreira - o ofício da construção - para se dedicar às especulações filosóficas, metafísicas, esotéricas e científicas. Trabalhavam em torno de símbolos ligados à arte da construção, razão pela qual a Ordem passou a ser chamada de simbólica.

Um Resumo da Grande Ópera: A Flauta Mágica

Nas montanhas, perto do templo de Isis no Egipto (durante o período de Ramsés I), o príncipe Tamino é perseguido por uma serpente. Caindo no chão sem sentidos, é salvo por três damas, aias da Rainha da Noite... Assim começa esta que foi a última ópera de Mozart, composta em 1791 com libreto do seu amigo Emmanuel Schikaneder.

As três damas revelam ao príncipe que Pamina foi raptada pelo feiticeiro Sarastro e a Rainha convence-o a salvá-la. Recebe então uma flauta mágica que, ao ser tocada, o protegerá de todos os perigos, e parte com Papageno, o caçador de pássaros. Chegados ao reino de Sarastro, descobrem que o feiticeiro perverso é, na verdade, um sábio sacerdote, representante supremo do bem, do sol e do dia, e que mantém Pamina junto de si apenas para a livrar do mal. Pamina e Tamino apaixonam-se e, juntos, ultrapassam os desafios de iniciação para seguir os ensinamentos de Sarastro.

Apesar do enredo aparentemente simples e infantil, a história é uma espécie de alegoria do universo maçónico ao qual compositor e libretista estavam ligados, tocando valores que se aproximam muito do pensamento iluminista.

No conto original de Wieland um malvado feiticeiro rapta a filha da Rainha da Noite, que graças à sua magia é resgatada por um príncipe. Schikaneder converteu o cruel feiticeiro em Sarastro, o sacerdote de Isis, situou a acção no antigo Egipto, onde se presume terem surgido os ritos da maçonaria, e transformou as provas a que são submetidos Tamino e Pamina em cópias do cerimonial maçónico.

A envolver todo este enredo, a admirável música de Mozart eleva-o numa aura de nobreza e de força dos mistérios sagrados, onde os acordes pesados e repetidos da abertura, representam as batidas à porta da loja maçónica. “A Flauta Mágica” é, ao mesmo tempo, um conto de fadas mágico e uma peça mistério; uma alegoria sobre o bem e o mal e uma fábula sobre o verdadeiro amor.

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