sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Fuja do sofrimento, evite inveja, cultive saúde, ensina "A Arte de Ser Feliz"

Fuja de tudo com potencial de provocar sofrimento. Deixe de ser pretensioso nos seus planos e sonhos. Evite a cobiça e a inveja. Cultive a saúde, o conforto e o bem-estar. Não se preocupe demais com o passado nem com o futuro. Tudo se transforma. Não deixe transparecer ódio nem raiva, expressões pouco inteligentes. Observe quem está em situação pior que a sua.
Esses conselhos fazem parte da fórmula da felicidade na visão de um filósofo do pessimismo. O livro "A Arte de Ser Feliz" reúne o material que Arthur Schopenhauer (1788-1860) escreveu sobre o desejo máximo da humanidade. Esses escritos só vieram a público após a morte do pensador, amado pelos artistas como o compositor alemão Richard Wagner, para quem Schopenhauer era o maior filósofo desde Kant.

O livro traz 50 máximas. Antes de apresentá-las, a obra faz uma introdução sobre o pequeno manual de pérolas de sabedoria. Aqui descobrimos por que na Alemanha não havia, na época, interesse em publicá-lo. Havia a avaliação de que ninguém iria querer aprender felicidade com um professor de pessimismo.

Aos sete anos, Schopenhauer perdeu o pai. A mãe, romancista, o criou em salões frequentados por escritores e intelectuais. Para ele, a arte tem a suprema função de ajudar a entender o mundo e nosso papel nele. Na sua visão, o verdadeiro artista é desinteressado em seu trabalho, ou seja, não tenta criar um fruto tão tentador que nos dê vontade de comê-lo, mas simplesmente apresenta a beleza pura do objeto.

Em "A Arte de Ser Feliz", Schopenhauer revela que "viver feliz" é uma impossibilidade. Desde a hora do nosso nascimento, estamos morrendo. Para ele, buscar a felicidade seria, no máximo, reduzir o número de ocorrências da dor em nossa existência, driblar situações desgastantes, impedir que nossa vaidade, orgulho, arrogância e prepotência nos empurre para embates inúteis, que nos distanciam da serenidade de espírito.

"A felicidade completa e positiva é impossível; em vez dela, pode-se esperar apenas um estado relativamente menos doloroso. A compreensão disso, porém, pode contribuir em muito para nos fazer desfrutar o bem-estar que a vida concede. Além disso, é muito raro que os próprios meios úteis a tal objetivo estejam em nosso poder."

Para Schopenhauer, a saúde pode substituir tudo, mas nada pode substituí-la. "Sem ela [saúde] não se pode experimentar nenhuma felicidade externa, que, portanto, não existe para quem a possui mas está doente. Com saúde, tudo é uma fonte de prazer. Por isso, um mendigo saudável é mais feliz do que um rei doente."



Fonte: Folha de São Paulo

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