segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Em nome da " Pós-Modernidade"



Para a nação azulina, refletir sobre a cena que presenciamos todos os dias quando passamos na Av. Almirante Barroso é confirmar a praxe, que em nome da modernidade, gestores e/ou marionetes, que no afã  e no açodamento de suas atitudes, confirmam  um destino cruel para  os grandes patrimônios e conseqüentemente para  sua própria história. A descaracterização  simbólica  em nome de uma pós-modernidade, reafirma  uma tese de que estamos caminhando para o superficial...

O que se vivencia é o momento do crescimento das grandes edificações, das grandes Torres  que cada vez  mais plastificam à Belém de outrora.  Assistimos  a tudo como nada estivesse acontecendo, e essa  conveniência fragiliza nossas instituições.

sábado, 23 de outubro de 2010

A biblioteca de Alexandria e a alquimia da palavra escrita

Em visita ao Distrito de Icoaraci, à convite do amigo e produtor Roberto Ribeiro, na divulgação do dia da Animação, que ocorreu no dia 28 de Outubro 2010, num dos poucos espaços institucionais em Belém de estudo e pesquisa - a sala de leitura da Biblioteca Avertano Rocha. O poster compartilha uma bela matéria assinada pela professora da USP, Heloisa Prieto.

Observamos a importância da revitalização e a potencialização de espaços como estes para a democratização do conhecimento.



A biblioteca de Alexandria e a alquimia da palavra escrita

Heloisa Prieto

Quando se atravessa uma paisagem urbana, como a de São Paulo, repleta de cartazes, folhetos, bancas de jornais, camisetas estampadas com frases, poemas pintados nos muros, mensagens em movimento escritas nos pára-choques de caminhões, poucas vezes surge a consciência de que nem sempre a escrita esteve tão presente na vida das pessoas.

No Antigo Egito, por exemplo, a escrita era considerada uma atividade sagrada e a alfabetização envolvia uma longa iniciação aos mistérios e responsabilidades da aquisição de um saber extraordinário. Naquele tempo se acreditava que Thot, era o nome da divindade que ensinara aos seres humanos o uso da escrita, da arquitetura, da medicina e da matemática. Grande defensor da humanidade, Thot era também o patrono da alquimia. Normalmente o termo alquimia sugere a capacidade de transformar chumbo em ouro. Porém, se Thot era o deus da escrita, é possível estabelecer-se uma aproximação e sugerir que aprender a ler e escrever seria uma forma de fazer a alquimia interna, isto é, abrir as portas da mente para o surgimento de paisagens imaginárias, bem como novos portais de conhecimento.

Nesses idos tempos da biblioteca de Alexandria quando se acreditava que os livros aproximavam a consciência dos homens da sabedoria divina, o acervo da instituição continha, além dos tratados sobre magia, biografias de reis e rainhas, livros históricos como a obra História do Egito, de Manéthon, descrevendo os acontecimentos das antigas nações, assim como feitos de heróis e outras figuras ilustres. Esses livros não permaneciam circunscritos às bibliotecas, mas também eram conservados nos arquivos dos templos. Ler, naquele tempo, não era apenas uma atividade para o aprendizado, ou ampliação da cultura pessoal, e sim uma atividade quase sobrenatural, por meio da qual se conquistaria poderes inusitados. A mítica imperatriz Cleópatra, entre vários outros monarcas, era freqüentadora assídua da biblioteca cujos papiros estudava em companhia de César.

Porém, no ano de 391, sob o domínio de Roma, o Imperador Teodósio decretou o fechamento de todos os templos egípcios. Tal medida teve uma conseqüência inesperada: a escrita dos hieróglifos, ainda viva naqueles tempos, tornou-se indecifrável. Na verdade, os mesmos sacerdotes que eram responsáveis pelo culto aos antigos deuses, atuavam como professores de língua escrita, pois os livros eram indispensáveis nas celebrações. Quando os sacerdotes foram expulsos de seus templos, levaram consigo o conhecimento da escrita egípcia. Com o passar do tempo, tanto os textos gravados sobre os monumentos, quanto nos papiros sagrados, tornaram-se incompreensíveis.

No ano de 450, após a destruição da biblioteca de Alexandria, o desaparecimento dos sacerdotes, raros eram os leitores da antiga escrita. Como ainda não havia a imprensa, os livros eram manuscritos. Quando um exemplar era reproduzido, passava a ser conservado na biblioteca de Serapis. Porém, também esse estabelecimento foi condenado à destruição, tendo sido queimado em 391.

Por outro lado, a força da tradição do Antigo Egito e seus mistérios tanto fascinavam os gregos que estes terminaram assimilando e incorporando vários mitos e valores, como a importância dos papiros, suas bibliotecas e dos deuses que teriam transmitido esses conhecimentos aos seres humanos. A biblioteca de Alexandria foi destruída, mas seu mito foi multiplicador e, com o passar dos séculos, bibliotecas espalham-se por todas as cidades e escolas do mundo.

Tantos anos depois, em nossa era de realidades virtuais, a tela do computador parece despertar, em muitos de seus usuários, o desejo de possuir e pesquisar e livros antigos, e os sebos, repletos de livros habitados pelo passado, voltam à moda. Listas de leituras preferidas circulam pelos blogs na Internet, saraus são a moda nos bares das cidades e a literatura, cujo fim tantas vezes já foi anunciado, parece dar provas de sua velha força e mistério.

Ou como diria nossa querida escritora Tatiana Belinky:

“Existe magia mais surpreendente do que abrir um livro e tirar de dentro dele uma história?”


Heloisa Prieto nasceu em São Paulo, em 1954. É doutora pela USP e mestre em semiótica pela PUC. Heloisa é autora de diversas obras de literatura infanto-juvenil e detentora de inúmeros prêmios, entre eles o Jabuti, União Brasileira dos Escritores e Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, além de ter obras selecionadas para compor o acervo básico da biblioteca nacional

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

COSTUMES, VALORES E MUDANÇA

Vivemos uma época de mudanças ou uma mudança de época? Coloco-me ao lado dos que crêem na segunda alternativa. A tecnologia avança num crescendo impressionante. O que é top quando escrevo esta crônica estará superado quando você a estiver lendo. Vivemos a era da instantaneidade, neste mundo plano, em que você acompanha em tempo real, o que acontece doutro lado do mundo.
A comunicação por e-mail, que ainda há quem reaja a ela, já é considerada por muitos, uma forma superada de se comunicar. Algo parecido com o hábito de se gostar de “empurrar” as coisas. Contemporâneo é comunicar-se através de redes sociais, como facebook, orkut, etc. Você coloca o que você tem a comunicar, na sua página, e todos seus amigos tomam conhecimento. Quem quer, interage só com você ou compartilha sua participação com os demais amigos de quem começou a interação.

O twitter, rede social de mensagens curtas, permite que todo mundo seja repórter. Aconteceu um fato interessante? Bote a boca no mundo e coloque seus seguidores (não interessa onde estejam), a par da informação. Se valer a pena, outros twitteiros vão percutir a mensagem. Se quiser também, diga também as suas besteiras. Tem gente que adora dizer que terminou de acordar, que está com sono, o que vai comer, enfim, cada um com o seu gosto.

Os blogs, estes nem se fala, são cadernos de anotação de qualquer pessoa que gosta de registrar suas idéias, pensamentos e abobrinhas; ou verdadeiros jornais pessoais. Há blogs famosos, mais lidos do que muitos jornais. E indiscutivelmente, com muito mais conteúdo que os jornais da “grande imprensa”. O blogueiro não fica tolhido pela ditadura do espaço, tônica dos jornalões. Essa limitação imposta ao jornalista, se tem o mérito de obrigá-lo à concisão, prejudica grandemente o aprofundamento das questões, enfraquecendo o conteúdo.

Outra característica desta mudança de época é a a alteração dos costumes. Estão aí as políticas afirmativas em favor dos segmentos da sociedade tradicionalmente excluídos. Dos negros, ou afrodescendentes, na linguagem politicamente correta, dos homossexuais, dos povos de terreiros, entre outros.

Tudo isso sem falar na mudança de valores, que já ocorriam mesmo antes dessas políticas de afirmação de minorias. Já vai longe a época da himenolatria. A cada dia que passa, a iniciação sexual se dá cada vez mais cedo, com todos os riscos e conseqüências que ela traz. Gravidez precoce, prostituição infantil, disseminação das doenças sexualmente transmissíveis, especialmente a AIDS, pedofilia etc. Essa situação de fato torna risível a comoção causada por certos episódios, no passado. E a forma como eram “corrigidos” ou punidos, pelos valores da época.

Por exemplo, quando eu era ginasiano, acho que da primeira série, lá em Parintins, numa segunda-feira, quando curtíamos a molecagem, durante o recreio, fazendo baderna na pracinha em torno da igreja matriz e em frente ao colégio, lá pelas tantas, um curumim, ao passar na correria, por de baixo da torre, se deparou com listas avermelhadas por sobre uma das colunas. Espantou-se com o que viu. Observou atentamente e gritou a plenos pulmões.

- Égua, moleque. É sangue!

Foi aquele burburinho. O que foi, o que não foi, foi aquela agonia. Adolescentes, um tanto ingênuos, estudantes de colégio religioso, no início dos anos sessenta do século passado (“A gente não fica velho. O tempo é que insiste em passar”, dizia o saudoso Saramago), todo mundo ficou cuíra com o que estava diante dos olhos. A liberação sexual viria na década seguinte e mesmo assim, essas coisas chegavam sempre com atraso, nas cidades do interior e “calibradas” pela moral vigente. Na roda que se formou, os moleques mais “salientes” faziam certas insinuações, porém ninguém tinha experiência suficiente, para dar o veredito.

Foi aí que “pintou”, na sua motocicleta com os inseparáveis óculos RayBan, o Álvaro Bandalheira, que já era um homem feito. Pelo apelido, dá prá imaginar a figura. Uma espécie de Bad Boy de cidadezinha amazônica.

Ele desmontou da moto, se aproximou, levantou os óculos, analisou o “indício” do crime, esfregou o dedo, cheirou e, com um sorriso sarcástico, sentenciou:

- Cabaço!

Foi um pandemônio. A Rádio Cipó “comeu no centro”. O Lioca, o repórter atrapalhado, personagem doutra crônica, no seu abestalhamento, dizia aparvalhado, “Disque fizeram um bagaço”.

Sabe como é que é, em cidade do interior. Todo mundo se conhece. Os costumes de cada um são de domínio público. Não levou muito tempo, para serem identificados o autor e a vítima. Esta por sinal, insuspeitíssima. Pelo ambiente em que era educada, supunha-se que morreria virgem “até de boca”. O autor, ah! esse não causou surpresa nenhuma. Era um curumim muito “saliente e apresentado”, prá se dizer o mínimo. Levava o nome de um animal arisco no seu sobrenome.

O fato que hoje passaria em brancas nuvens, teve que se ser reparado, conforme os costumes da época, com o casamento. O que não impediu que um gaiato gravasse em baixo relevo no local do crime, uma frase que permaneceu por alguns dias, até ser raspada e pintada, em nome da moral e dos bons costumes. A “obra de arte” anunciava, num português escorreito: - Aqui jazem os restos mortais de um cabaço!

Octavio Pessoa – advogado, jornalista e auditor federal de controle externo

Fonte: http://blogdooctaviopessoaf.blogspot.com/

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O planejamento à serviço do desenvolvimento sustentável

Já se vão mais de 10 anos que um grupo de pesquisadores e discentes de pós-graduação do Mestrado do NAEA - Núcleo de Altos Estudos da Amazônia, e do Curso de Pós-Graduação em Economia do Trabalho do CSE/UFPA/USP, uniram-se para formar a Ong Capital Social que tinha a pretenção de consolidar como uma referência no planejamento para instituições sociais e prefeituras na Amazônia...

Muitos projeto foram desenvolvidos, principalmente em parceria com a CNM/CUT, Federação Italiana Metalúrgica, Conselho Estadual das Cidades, Prefeitura de Belém - Governo do Povo, Prefeitura de Abaetetuba - PT, Sistema de Proteção da Amazônia - SIPAM e  tantos outros.

Segue um pouco do resumo da instituição que em Breve estará com site novo...

Parabêns a Todos....

Instituto Capital Social da Amazônia, fundado em 23 agosto de 2000, é uma entidade não-governamental de caráter social que tem por finalidade apoiar e desenvolver ações para a elevação e manutenção da qualidade de vida do ser humano e do meio ambiente na Amazônia brasileira, através do planejamento regional e estratégico, educação profissional e formação para cidadania. Esta é a filosofia da entidade formada por um grupo de pesquisadores com experiência em pesquisas e desenvolvimento de projetos no Estado do Pará. A iniciativa de criação desta entidade, resulta do interesse no fortalecimento da estrutura democrática regional, através do desenvolvimento do capital humano e da intensificação do processo de cidadania e ativa participação das comunidades existentes nesta região.

O inicio das atividades vinculadas à economia solidária e ao crédito solidário na instituição se iniciou com a parceria na execução de projetos da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da Central Única dos Trabalhadores - CUT, através de seu Instituto, o Instituto Integrar, que executou no Estado do Pará, mas propriamente na cidade de Belém, o Projeto Criança 2000 (2002), tendo como entidade auxiliar na execução, o Instituto Capital Social. Tal ação visava qualificar pais cadastrados na Bolsa Escola da Prefeitura de Belém, em ações de qualificação e organização de micro empreendimentos solidários e que contou com o financiamento da Confederação Nacional dos Metalúrgicos/Central Única dos Trabalhadores, da FIM/ISCOS (Federação Italiana de Metalúrgicos/Instituto Sindical para Cooperação e Desenvolvimento e da Prefeitura Municipal de Belém, nos anos de 2001 a 2002.

Essa ação onde a responsabilidade técnica e orçamentária cabia ao Instituto Integrar, mas a equipe técnica do projeto pertencia ao Instituto Capital Social, nos motivou a propor ao Instituto Integrar um novo projeto, na região do Baixo Tocantins, na cidade de Abaetetuba/Pará, que visava agora não somente capacitar participantes de programas sociais, mas os próprios gestores sociais, no sentido de implementar como eixo transversal das políticas sociais, ações de inclusão baseada na geração de trabalho e renda, em especial, aquelas ligadas a Economia Solidária. O projeto chamado Gestores Sociais: que também recebeu financiamento da FIM/ISCOS (Federação Italiana de Metalúrgicos/Instituto Sindical para Cooperação e Desenvolvimento , e se desenvolveu de 2003 a 2005, permitiu a gestão municipal implementar as primeiras ações na área, através da qualificação dos quadros do governo local.

A partir de 2006 a Organização não governamental de Planejamento e Desenvolvimento Sócio-Econômico da Amazônia Brasileira em parceria direta prefeituras e outras entidades não governamentais, ajuda a implantar no Estado do Pará, ações de crédito solidário além assessoramento na implantação de bancos comunitários.

Atualmente 100% dos recursos da Organização não governamental de Planejamento e Desenvolvimento Sócio-Econômico da Amazônia Brasileira são oriundos de contribuições de seus membros.

Oscar Niemeyer

A Casa que a Fome Mora

Em treinamento nacional sobre a política de Gestão Para Resultados no Setor Público na América Latina, promovido pelo BID, na terra de JK. Encontrei um amigo do Estado do Rio Grande do Norte que repassou este cordel. Socializo aos amigos…


A Casa que a Fome Mora
* Antônio Francisco Teixeira Melo


Eu de tanto ouvir falar
Dos danos que a fome faz,
Um dia eu sai atrás
Da casa que ela mora.

Passei mais de uma hora
Rodando numa favela
Por gueto, beco e viela,
Mas voltei desanimado,
Aborrecido e cansado.
Sem ter visto o rosto dela.

Via a cara da miséria
Zombando da humildade,
Vi a mão da caridade
Num gesto de um mendigo
Que dividiu o abrigo,
A cama e o travesseiro,
Com um velho companheiro
Que estava desempregado,
Vi da fome o resultado,
Mas dela nem o roteiro.

Vi o orgulho ferido
Nos braços da ilusão
Vi pedaços de perdão
Pelos iníquos quebrados,
Vi sonhos despedaçados
Partidos antes da hora,
Vi o amor indo embora,
Vi o tridente da dor,
Mas nem de longe via a cor
Da casa que a fome mora.

Vi num barraco de lona
Um fio de esperança,
Nos olhos de uma criança,
De um pai abandonado,
Primo carnal do pecado
Irmão dos raios da lua,
Com as costas seminuas
Tatuadas de caliça,
Pedindo um pão de justiça
Do outro lado da rua.

Vi a gula pendurada
No peito da precisão,
Vi a preguiça no chão
Sem ter força de vontade,
Vi o caldo da verdade
Fervendo numa panela
Dizendo: aqui ninguém come!
Ouvi os gritos da fome,
Mas não vi a boca dela.

No outro dia eu saio
De novo a procura dela,
Mas não naquela favela,
Fui procurar num sobrado
Que tinha do outro lado
Onde morava um sultão.
Quando eu pulei o portão
Eu vi a fome deitada
Em uma rede estirada
No alpendre da mansão.

Eu pensava que a fome
Fosse magricela e feia,
Mas era uma sereia
De corpo espetacular
E quem iria culpar
Aquela linda princesa
De tirar o pão da mesa
Dos subúrbios da cidade
Ou pisar sem piedade
Numa criança indefesa?

Passei a noite acordado
Sem saber o que fazer,
Louco, louco pra saber
Onde a fome residia
E por que naquele dia
Ela não foi na favela
E qual o segredo dela,
Quando queria pisava,
Amolecia e Matava
E ninguém matava ela?

Engoli três vezes nada
E perguntei o seu nome
Respondeu-me: sou a fome
Que assola a humanidade,
Ataco vila e cidade,
Deixo o campo moribundo,
Eu não descanso um segundo
Atrofiando e matando,
Me escondendo e zombando
Dos governantes do mundo.

Me alimento das obras
Que são superfaturadas,
Das verbas que são guiadas
Pro bolsos dos marajás
E me escondo por trás
Da fumaça do canhão,
Dos supérfluos da mansão,
Da soma dos desperdícios,
Da queima dos artifícios
Que cega a população

Tenho pavor da justiça
E medo da igualdade,
Me banho na vaidade
Da modelo desnutrida
Da renda mal dividida
Na mão do cheque sem fundo,
Sou pesadelo profundo
Do sonho do bóia fria
E almoço todo dia
Nos cinco estrelas do mundo.

Se vocês continuarem
Me caçando nas favelas,
Nos lamaçais das vielas,
Nunca vão me encontar,
Eu vou continuar
Usando o terno Xadrez,
Metendo a bola da vez,
Atrofiando e matando,
Me escondendo e zombando
Da Burrice de vocês.


* Membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel – Mossoró RN – Patativa do Assaré

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Betinho: um grande Sociólogo

 
Herbert Jose de Souza nasceu no norte de Minas Gerais e, junto com seus dois irmãos - o cartunista Henfil e o músico Chico Mário, herdou da mãe a hemofilia, e desde a infância sofreu com outros problemas, como a tuberculose. "Eu nasci para o desastre, porém com sorte" - costumava dizer.

Foi criado em ambientes inusitados: a penitenciária e a funerária, onde o pai trabalhava. Mas sua formação teve grande influência dos padres dominicanos, com os quais travou contato na década de 1950. Integrou a JEC (Juventude Estudantil Católica), a JUC (Juventude Universitária Católica) e, em 1962, fundou a AP (Ação Popular), da qual foi o primeiro coordenador.

Carreira

Concluiu seus estudos universitários em Sociologia, no ano de 1962. Durante o governo de João Goulart assessorou o MEC, chefiou a Assessoria do Ministro Paulo de Tarso Santos, e defendeu as Reformas de base, sobretudo a reforma agrária.

Com o golpe militar, em 1964, mobilizou-se contra a ditadura, sem nunca esquecer as causas sociais, porém. Com o aumento da repressão, foi obrigado a se exilar no Chile, em 1971. Lá assessorou Salvador Allende, até sua deposição em 1973. Conseguiu escapar do golpe de Pinochet refugiando-se na embaixada panamenha. Posteriormente morou no Canadá e no México. Durante esse período foram reforçadas as suas convicções sobre a democracia - que ele julgava ser incompatível com o sistema capitalista.

Foi homenageado como "o irmão do Henfil" na canção "O bêbado e a equilibrista", de João Bosco e Aldir Blanc, gravada por Elis Regina - "Meu Brasil / que sonha com a volta do irmão do Henfil / de tanta gente que partiu…" - à época da Campanha pela Anistia aos presos e exilados políticos. Anistiado em 1979, voltou ao Brasil.

Em 1981, junto com os economistas Carlos Afonso e Marcos Arruda, fundou o IBASE - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas.[1] e passou a se dedicar à luta pela reforma agrária, sendo um de seus principais articuladores. Nesse sentido conseguiu reunir, em 1990, milhares de pessoas no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro, em manifestação pela causa.

Betinho também integrou as forças que resultaram no impeachment do Presidente da República Fernando Collor. Mas o projeto pelo qual se imortalizou foi, provavelmente, a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, movimento em favor dos pobres e excluídos.

Câncer é doença do homem moderno

Cientistas examinaram quase mil múmias do Egito e América do Sul e descobriram que a doença era rara na sociedade pré-industrial

O câncer é uma doença moderna, pois praticamente não aparece nas múmias do antigo Egito e da América do Sul examinadas por cientistas.

Após examinar em torno de mil múmias antigas, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Manchester (Inglaterra) chegou a essa conclusão, publicada na revista "Nature Reviews Câncer".

De acordo com Rosalie David, biomédica desse centro, se nas sociedades industrializadas o câncer é a segunda causa de mortandade atrás apenas das doenças cardiovasculares, na antiguidade é algo raríssimo.

Portanto, tem a ver com a poluição e as mudanças em nossa dieta e estilo de vida, afirma David.

Assine a petição para acabar com a fome.

1billionhungry.org

1billionhungry.org

16 de outubro: Dia Mundial da Alimentação - Petição Contra a FOME


A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), já conta com mais de 113 mil assinaturas do projeto "1billionhungry", grande contribuição veio de Instituições do Rio Grande do Sul.

A petição será apresentada nas Nações Unidas em Outubro / Novembro 2010.

Para assinar a petição para acabar com a fome basta clicar em http://www.1billionhungry.org/faobrasil/,
preencher os dados solicitados e enviar.

Você também pode ajudar a fazer ainda mais pressão sobre os políticos, pedindo á família, aos amigos e colegas para assinar a petição. Basta enviar-lhes o link acima através de email, Facebook ou Twitter.

Em breve receberá um email que contém a sua Palavra-chave secreta. Use-a para entrar no 1billionhungry.org e ver num mapa-mundo quantos dos seus amigos assinaram. Linhas vermelhas ligarão as cidades numa rede visível.

Em outros lugares deste site, poderá ver como outros se estão a esforçar de para chamar a atenção sobre o flagelo da fome. Pode encomendar t-shirts, apitos e outros produtos da loja para mostrar a sua solidariedade.




* Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação

Tecnologia social e agricultura familiar: uma questão de igualdade

ASA Brasil *

Por Valquíria Lima  - Membro da Coordenação Nacional da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA)
 
As tecnologias sociais buscam a inclusão social e melhoria das condições de vida das populações, fortalecendo a promoção do bem-viver e o cuidado coletivo com a vida na terra e em nosso país. Nesse sentido, o tema Tecnologia Social vem ganhando uma importância muito grande no debate sobre a construção de uma sociedade mais justa, igualitária, solidária e sustentável.
 
Temos, hoje, um conjunto de experiências que estão trilhando o caminho de um desenvolvimento alternativo, integral e solidário, com base em uma ética que inclua a responsabilidade e que supere a lógica utilitarista e individualista do lucro acima do ser humano, do econômico em detrimento ao social, cultural e ambiental. São iniciativas espalhadas por esse Brasil afora que se voltam para as necessidades de grupos, comunidades e territórios, que valorizam o saber popular e o integram ao conhecimento acadêmico.

Os exemplos de tecnologias sociais são variados e em diferentes áreas, como: comercialização e economia solidária; reservatórios para armazenamento de água de chuva para a produção de alimentos e consumo humano; intercâmbios para troca de conhecimento; agroecologia; saneamento; energia; meio ambiente; sementes crioulas; segurança alimentar e nutricional; moradia popular; educação; saúde; plantas medicinais; inclusão digital; arte; cultura; lazer; geração de trabalho e renda; microcrédito; promoção de igualdade em relação à raça, gênero, comunidades tradicionais e pessoas com deficiência; comunicação popular e comunitária; entre outras.

Muitas iniciativas têm fortalecido a disseminação e o enraizamento da tecnologia social como base de políticas públicas voltadas para a necessidade concreta das populações. Podemos citar a Rede de Tecnologias Sociais (RTS), que agrega a sociedade civil, o poder público e a iniciativa privada para pensar ações de fortalecimento e disseminação das tecnologias sociais.

Outra importante iniciativa é a da Fundação Banco do Brasil, que tem pautando as tecnologias sociais como base do desenvolvimento local e sustentável e premiado diversas experiências de tecnologias sociais no campo e na cidade em todo o Brasil, por meio do Prêmio Fundação Banco de Brasil de Tecnologias Sociais.

Uma iniciativa de igual valor, que merece ser seguida por demais estados, é o Projeto de Lei que dispõe sobre a Política de Fomento à Tecnologia Social do Estado de Minas Gerais, proposta pelo deputado estadual Almir Paraca.

No campo, essas experiências estão mudando a cara da agricultura familiar e camponesa no Brasil. O Censo Agropecuário 2009 traz uma novidade: pela primeira vez, a agricultura familiar brasileira é retratada nas pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O setor emprega quase 75% da mão-de-obra no campo e é responsável pela segurança alimentar dos brasileiros, produzindo 70% do feijão, 87% da mandioca, 58% do leite, 59% do plantel de suínos, 50% das aves, 30% dos bovinos e, ainda, 21% do trigo consumidos no país.

Foram identificados 4.367.902 estabelecimentos de agricultura familiar que representam 84,4% do total (5.175.489 estabelecimentos), mas ocupam apenas 24,3% (ou 80,25 milhões de hectares) da área dos estabelecimentos agropecuários brasileiros.

Apesar de ocupar apenas um quarto da área, a agricultura familiar responde por 38% do valor da produção agrícola do país (ou R$ 54,4 bilhões). Mesmo cultivando uma região menor, a agricultura familiar é responsável por garantir a segurança alimentar do país gerando os produtos da cesta básica consumidos pelos brasileiros.

Com tantos dados significativos, as diversas experiências de tecnologias sociais desenvolvidas e difundidas pela agricultura familiar e camponesa têm possibilitado o reforço em favor de uma agricultura que produza alimentos saudáveis, valorizando as sementes típicas de cada bioma, trabalhando a cooperação respeitosa com a terra e a água, criando consciência de solidariedade em relação ao direto de todas as pessoas à alimentação e nutrição, incentivando o consumo solidário e responsável, agregando valor à produção familiar e camponesa, fortalecendo o direito à vida e às condições dignas de existência de todas as pessoas no campo e na cidade.

Nós, da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), acreditamos na força das tecnologias sociais, na mudança e melhoria de vida das pessoas por meio das diversas experiências, nos grupos e comunidades e nas pessoas que, acima de tudo, não perderam a capacidade de sonhar e creditar na justiça, na solidariedade e na igualdade, como base do desenvolvimento sustentável que defendemos e que nos motiva a continuar afirmando:


"Quando sonhamos sozinhos é só um sonho;
mas quando sonhamos juntos é o início de uma nova realidade".
(D. Helder Camara).


[Fonte: Publicação "Tecnologia Social e Desenvolvimento Sustentável - Contribuições da RTS para a formulação de uma política de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação"].

domingo, 17 de outubro de 2010

Hino do Clube do Remo - O maior do Norte

Filhos de Gandhy

                                                   Foto: Google Imagem

O Afoxé Filhos de Gandhy que serviu de inspiração para o Bloco Tamaquaré Dourado de Abaetetuba-Pa, fundado por estivadores portuários da cidade no dia 18 de fevereiro de 1949, tornou-se o maior e dito o mais belo Afoxé do Carnaval da Bahia, em Salvador.

Constituído exclusivamente por homens e inspirado nosTradicionalmente a 'fantasia' contém, além do turbante e das vestimentas, um perfume de alfazema e colares azul e branco. Os colares já são conhecidos tradicionalmente por "colar dos filhos de Ghandy", que são oferecidos para os admiradores como forma de desejar-lhes paz durante o carnaval e ao longo do ano.

A fome no mundo

Por Fernando Augusto Botelho ...

Fome diminui no Brasil, mas cresce no mundo

Agência Brasil

A maior participação da sociedade civil na elaboração de políticas públicas para alimentação e diminuição da pobreza são fatores que fazem com que o Brasil tenha motivos para comemorar o Dia Mundial da Alimentação, de acordo com a conselheira do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Elisabetta Recini.

Entre 1995 e 2008, a pobreza absoluta (rendimento médio domiciliar per capita de até meio salário mínimo mensal) caiu 33,6% no país, o que significa que 12,8 milhões de pessoas aumentaram seu rendimento. No mesmo período, 13,1 milhões de brasileiros superaram pobreza extrema (rendimento médio domiciliar per capita de até um quarto de salário mínimo mensal), diminuindo em 49,8% a quantidade de pessoas nessa condição. Os dados são do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

o conquista na área neste ano, a conselheira citou a aprovação da Emenda Constitucional 64, que inclui a alimentação entre os direitos sociais estabelecidos na Constituição Federal e a assinatura da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Este documento define estratégias para assegurar a alimentação adequada e saudável em todo o país.

Outro motivo de comemoração destacado pela conselheira é o aumento da participação de setores civis, como indígenas, quilombolas e pesquisadores acadêmicos, na formulação das políticas públicas de alimentação por meio do Consea.

O cenário mundial, no entanto, não remeta ao otimismo. Segundo o representante da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Gustavo Chianca, em 2009, o número de pessoas que passam fome no mundo chegou a 1 bilhão em consequência da crise financeira mundial. "Nunca houve tanta gente passando fome no mundo", disse.

Em protesto ao aumento da pobreza, a FAO divulgou um documento que pede aos governantes que priorizem a erradicação da fome. O projeto One Billion Hungry (Um milhão de pessoas com fome) tem 1 milhão de assinaturas em todo o mundo. O Brasil é o terceiro país que mais colaborou, com aproximadamente 115 mil assinantes.

Segundo o coordenador de ações internacionais de combate á fome do Itamaraty, Milton Rondó Filho, o Haiti é o país que mais recebe recursos do governo brasileiro destinado á ajuda humanitária internacional. Só neste ano foram destinados US$ 265 milhões para os haitianos, enquanto todos os outros países que receberam ajuda brasileira receberam, US$ 50 milhões.

Fonte: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif

O Já Ganhou do Vaidoso e "Príncipe" dos Sociólogos - FHC

Por  Luiz Carlos Azenha

O dia em que o Datafolha derrotou Jânio Quadros (que venceu com 4% de vantagem)

Como os arquivos do Viomundo antigo estão em frangalhos, um problema que o Leandro Guedes promete resolver em breve, vou dar uma de caduco: contar de novo, em poucas palavras, uma história antiga, acrescentando alguns detalhes.

Aconteceu, como diria aquele personagem do Chico Anysio, em 1985.

Eu era um jovem, porém experiente repórter.

Tinha pedido demissão da TV Globo pela primeira vez (o equivalente, naquela época, a pedir demissão da Petrobras), já que a emissora queria que eu fosse chefe do escritório de uma futura emissora, em São José do Rio Preto, mas eu queria me formar, o que exigia minha presença física em São Paulo (eu levava o curso de Jornalismo na Universidade de São Paulo aos trancos e barrancos e só colei grau em fevereiro de 1987, quando já era correspondente da TV Manchete em Nova York).

Um dia, estudante em São Paulo e desempregado, passei pela entrada do Hospital das Clínicas, onde Tancredo Neves estava moribundo, e encontrei o Heraldo Pereira, então repórter da TV Manchete, que me disse que a emissora tinha vaga para repórter (àquela altura eu já tinha quatro anos de experiência em TV, o que incluia longos meses cobrindo férias na Globo de São Paulo, com muitas reportagens em jornais de rede e algumas no Jornal Nacional).

Fui contratado.

Como aquele era ano de eleições para a Prefeitura de São Paulo, fui escalado pela Cristina Piasentini para acompanhá-las. Foi assim que passei a periodicamente visitar a casa do candidato Jânio Quadros, na Lapa, em São Paulo. Conheci dona Eloá, a ex-primeira dama. O ex-presidente tinha sido candidato a governador em 1982, nas primeiras eleições diretas para o cargo durante o regime militar. Perdeu para Franco Montoro. Agora ensaiava uma nova tentativa eleitoral, com apoio na centro-direita. Os outros candidatos importantes eram Fernando Henrique Cardoso, do PMDB de Montoro, herdeiro do MDB, o partido de oposição ao regime militar; e Eduardo Suplicy, do recém-formado Partido dos Trabalhadores.

Jânio concorria pelo PTB. Ele mesmo abria o portão da casa e nos encaminhava para um escritório anexo. Confesso que não era o candidato de minha simpatia (eu tinha votado em Montoro para governador e, se meu título fosse de São Paulo, provavelmente votaria em FHC para prefeito). Mas Jânio era um homem muito simpático. Pedia café e conversava com o jovem repórter como se eu pudesse decidir as eleições. Nas entrevistas, atacava Fernando Henrique Cardoso como alguém que teria mais intimidade com os subúrbios de Paris do que com a periferia de São Paulo. Jânio gostava de falar dos bairros que conhecia pessoalmente, especialmente da vila Maria, que era sua base eleitoral. Jânio dizia abertamente que parte da mídia era inimiga dele. Citava a TV Globo, razão pela qual, presumo, recebia tão bem as equipes da Manchete (sobre acertos de bastidores da Manchete com Jânio, eu era muito jovem para saber).

No dia da eleição, 15 de novembro de 1985, a TV Manchete instalou uma câmera daquelas grandes, de estúdio, na redação da Folha de S. Paulo. Ao longo da campanha eleitoral eu havia entrevistado o Otavinho, já que a Manchete tinha feito um acordo para divulgar os resultados das pesquisas do Datafolha, recém-criado.

Uma das minhas primeiras intervenções ao vivo foi para anunciar o resultado da pesquisa de boca-de-urna do Datafolha em São Paulo. Fernando Henrique Cardoso seria eleito prefeito de São Paulo, previa o Datafolha. Já não me recordo qual era a margem prevista pelo instituto. No entanto, assim que a votação acabou e começou a apuração, os resultados do Datafolha eram distintos dos revelados pela contagem física dos votos.

Ao longo da campanha, Jânio Quadros tinha se servido de pesquisas não-científicas feitas pela rádio Jovem Pan, que colocava equipes volantes para entrevistar eleitores nas ruas de São Paulo. Pelas “pesquisas” da Pan, Jânio seria eleito.

A situação foi ficando cada vez mais tensa na redação da Folha. Havia um terrível descompasso entre a previsão e a contagem. Por pressão da redação da TV Manchete (que conversava comigo pelo ponto e por uma linha telefônica específica), chamei o Reginaldo Prandi, que falava pelo Datafolha. A explicação dele, ao vivo, foi a seguinte: por enquanto as urnas apuradas são de regiões onde Jânio Quadros tem a maioria dos votos; quando chegarem ao TSE as urnas de outras áreas de São Paulo, Fernando Henrique vencerá.

Segundo Conceição Lemes, que também era repórter em 1985, o governador Franco Montoro chegou a dar um entrevista à TV Record agradecendo os eleitores de São Paulo pela escolha de Fernando Henrique, aparentemente baseado na pesquisa Datafolha.

Ou não. Isso não me ocorreu na época, mas uma pesquisa de boca-de-urna viciada pode servir a interesses inconfessáveis: se a margem em favor de um candidato for bastante reduzida, pode permitir que pilantragem eleitoral mude o resultado. Como diria a Folha de S. Paulo, não há provas de que isso tenha acontecido então, mas também não há provas de que não tenha ocorrido.

Ao fim e ao cabo recebi uma ligação de Pedro Jacques Kapeller, o Jaquito, o principal executivo da TV Manchete abaixo de Adolpho Bloch, que disse algo assim: “Azenha, esquece o Datafolha, pode dizer que o Jânio vai ganhar baseado na apuração”.

Foi o que fiz. Jânio, eleito, foi para a sede da TV Manchete, na rua Bruxelas, dar uma entrevista ao vivo.
 
FHC - Posando para um Fotógrafo na Sede da Prefeitura de São Paulo... Certo da Vitória...

Giuseppe Garibaldi: um legítimo Camisa Vermelha

Em suas memórias, datadas de 1859, Garibaldi registrou: “Na América eu servi – e servi sinceramente – à causa dos povos. Assim fui adversário do Absolutismo.” Exímio marinheiro e navegador, corajoso, admirador de Mazzini e do movimento Jovem Itália, o carbonário Giuseppe participou das lutas pela unificação de seu país. Condenado à morte, deixou a Europa partindo de Nantes, a bordo do Nautonier, e chegou ao Rio de Janeiro, onde se integrou a um ativo grupo de conterrâneos exilados, entre eles Luiggi Rossetti.

“A escolha da outrora capital do Brasil como meta do jovem lígure justifica-se pela posição estratégica de sua localização na rota dos navios da marinha mercante do Reino de Piemonte e Sardenha, em direção a Montevidéu e Buenos Aires. Outro fator que deve ter influenciado a preferência pelo Brasil foi a efervescência da situação política no período de Regência (1831-1840), definida por alguns historiadores como uma inusitada ‘experiência republicana’ no interior do Império, devido à menor idade de D. Pedro II. Não se pode minimizar, ainda, o interesse econômico, uma vez que neste período as novas riquezas então produzidas pela expansão cafeeira na região movimentavam o porto do Rio de Janeiro e todas as atividades comerciais a ele relacionadas”, escreve Maria Pace Chiavari no artigo “Rio de Janeiro, a porta de entrada de Garibaldi para a América Latina”.

Entre 1837 e 1840, Garibaldi lutou na Revolução Farroupilha, no Rio Grande do Sul, lado a lado com os combatentes farrapos liderados por Bento Gonçalves. Deixou o Rio Grande do Sul e estabeleceu-se em território uruguaio, já acompanhado de Anita. Lá chefiou a Legião Italiana durante o longo cerco a Montevidéu, de 1845 a 1851. Depois retornou à Itália, para lutar mais uma vez com seus companheiros camisas-vermelhas pela unificação do país, que ocorreria somente em 1861. Garibaldi morreu na ilha de Caprera, em 1882, 33 anos depois de Anita, a brasileira que o amou e acompanhou em uma das mais emocionantes epopéias da humanidade.

Para os organizadores de "Os Caminhos de Garibaldi na América", estudar um vulto histórico de forma apaixonada não significa idealizá-lo ou colocá-lo num pedestal. Ao contrário, trata-se de encarar o mito, com todas as suas contradições. E isso só se torna possível com a soma de pontos de vista diversos, de especialistas e pesquisadores que investigaram a fundo, em contextos e ângulos diferentes, as muitas facetas do personagem. Nesse sentido, a vida de Giuseppe Garibaldi, sem dúvida, representa uma riqueza ilimitada.

sábado, 16 de outubro de 2010

A psicologia de massa do fascismo à brasileira

Há tempos alerto para a campanha de ódio que o pacto mídia-FHC estava plantando no jogo político brasileiro.

O momento é dos mais delicados. O país passa por profundos processos de transformação, com a entrada de milhões de pessoas no mercado de consumo e político. Pela primeira vez na história, abre-se espaço para um mercado de consumo de massa capaz de lançar o país na primeira divisão da economia mundial

Esses movimentos foram essenciais na construção de outras nações, mas sempre vieram acompanhados de tensões, conflitos, entre os que emergem buscando espaço, e os já estabelecidos impondo resistências.

Em outros países, essas tensões descambaram para guerras, como a da Secessão norte-americana, ou para movimentos totalitários, como o fascismo nos anos 20 na Europa.

Nos últimos anos, parecia que Lula completaria a travessia para o novo modelo reduzindo substancialmente os atritos. O reconhecimento do exterior ajudou a aplainar o pesado preconceito da classe média acuada. A estratégia política de juntar todas as peças – de multinacionais a pequenas empresas, do agronegócio à agricultura familiar, do mercado aos movimentos sociais – permitiu uma síntese admirável do novo país. O terrorismo midiático, levantando fantasmas com o MST, Bolívia, Venezuela, Cuba e outras bobagens, não passava de jogo de cena, no qual nem a própria mídia acreditava.

À falta de um projeto de país, esgotado o modelo no qual se escudou, FHC – seguido por seu discípulo José Serra – passou a apostar tudo na radicalização. Ajudou a referendar a idéia da república sindicalista, a espalhar rumores sobre tendências totalitárias de Lula, mesmo sabendo que tais temores eram infundados.

Em ambientes mais sérios do que nas entrevistas políticas aos jornais, o sociólogo FHC não endossava as afirmações irresponsáveis do político FHC.

Mas as sementes do ódio frutificaram. E agora explodem em sua plenitude, misturando a exploração dos preconceitos da classe média com o da religiosidade das classes mais simples de um candidato que, por muitos anos, parecia ser a encarnação do Brasil moderno e hoje representa o oportunismo mais deslavado da moderna história política brasileira.

O fascismo à brasileira

Se alguém pretende desenvolver alguma tese nova sobre a psicologia de massa do fascismo, no Brasil, aproveite. Nessas eleições, o clima que envolve algumas camadas da sociedade é o laboratório mais completo – e com acompanhamento online - de como é possível inculcar ódio, superstição e intolerância em classes sociais das mais variadas no Brasil urbano – supostamente o lado moderno da sociedade.

Dia desses, um pai relatou um caso de bullying com a filha, quando se declarou a favor de Dilma.

Em São Paulo esse clima está generalizado. Nos contatos com familiares, nesses feriados, recebi relatos de um sentimento difuso de ódio no ar como há muito tempo não se via, provavelmente nem na campanha do impeachment de Collor, talvez apenas em 1964, período em que amigos dedavam amigos e os piores sentimentos vinham à tona, da pequena cidade do interior à grande metrópole.

Agora, esse ódio não está poupando nenhum setor. É figadal, ostensivo, irracional, não se curvando a argumentos ou ponderações.
Minhas filhas menores freqüentam uma escola liberal, que estimula a tolerância em todos os níveis. Os relatos que me trazem é que qualquer opinião que não seja contra Dilma provoca o isolamento da colega. Outro pai de aluna do Vera Cruz me diz que as coleguinhas afirmam no recreio que Dilma é assassina.

Na empresa em que trabalha outra filha, toda a média gerência é furiosamente anti-Dilma. No primeiro turno, ela anunciou seu voto em Marina e foi cercada por colegas indignados. O mesmo ocorre no ambiente de trabalho de outra filha.

No domingo fui visitar uma tia na Vila Maria. O mesmo sentimento dos antidilmistas, virulento, agressivo, intimidador. Um amigo banqueiro ficou surpreso ao entrar no seu banco, na segunda, é captar as reações dos funcionários ao debate da Band.

A construção do ódio

Na base do ódio um trabalho da mídia de massa de martelar diariamente a história das duas caras, a guerrilha, o terrorismo, a ameaça de que sem Lula ela entregaria o país ao demonizado José Dirceu. Depois, o episódio da Erenice abrindo as comportas do que foi plantado.

Os desdobramentos são imprevisíveis e transcendem o processo eleitoral. A irresponsabilidade da mídia de massa e de um candidato de uma ambição sem limites conseguiu introjetar na sociedade brasileira uma intolerância que, em outros tempos, se resolvia com golpes de Estado. Agora, não, mas será um veneno violento que afetará o jogo político posterior, seja quem for o vencedor.

Que país sairá dessas eleições?, até desanima imaginar.

Mas demonstra cabalmente as dificuldades embutidas em qualquer espasmo de modernização brasileira, explica as raízes do subdesenvolvimento, a resistência história a qualquer processo de modernização. Não é a herança portuguesa. É a escassez de homens públicos de fôlego com responsabilidade institucional sobre o país. É a comprovação de porque o país sempre ficou para trás, abortou seus melhores momentos de modernização, apequenou-se nos momentos cruciais, cedendo a um vale-tudo sem projeto, uma guerra sem honra.


Seria interessante que o maior especialista da era da Internet, o espanhol Manuel Castells, em uma próxima vinda ao Brasil, convidado por seu amigo Fernando Henrique Cardoso, possa escapar da programação do Instituto FHC para entender um pouco melhor a irresponsabilidade, o egocentrismo absurdo que levou um ex-presidente a abrir mão da biografia por um último espasmo de poder. Sem se importar com o preço que o país poderia pagar.

Fonte: http://www.advivo.com.br/luisnassif/

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O teólogo Leonardo Boff apóia aliança entre Marina e Dilma


Há dois projetos em ação: um é o neoliberal ainda vigente no mundo e no Brasil apesar da derrota de suas principais teses na crise de 2008. Esse nome visa dissimular aos olhos de todos, o caráter altamente depredador do processo de acumulação, concentrador de renda que tem como contrapartida o aumento vertiginoso das injustiças, da exclusão e da fome. José Serra representa esse ideário. O outro projeto é o da democracia social e popular do PT. Sua base social é o povo organizado e todos aqueles que pela vida afora se empenharam por um outro Brasil. Dilma Rousseff se propõe garantir e aprofundar a continuidade deste projeto. É aquí que entra a missão de Marina Silva com seus cerca de vinte milhões de votos.

Leonardo Boff.

O Brasil está ainda em construção. Somos inteiros mas não acabados. Nas bases e nas discussões políticas sempre se suscita a questão: que Brasil finalmente queremos?

É então que surgem os vários projetos políticos elaborados a partir de forças sociais com seus interesses econômicos e ideológicos com os quais pretendem moldar o Brasil.

Agora, no segundo turno das eleições presidenciais, tais projetos repontam com clareza. É importante o cidadão consciente dar-se conta do que está em jogo para além das palavras e promessas e se colocar criticamente a questão: qual dos projetos atende melhor às urgências das maiorias que sempre foram as “humilhadas e ofendidas” e consideradas “zeros econômicos” pelo pouco que produzem e consomem.

Essas maiorias conseguiram se organizar, criar sua consciência própria, elaborar o seu projeto de Brasil e digamos, sinceramente, chegaram a fazer de alguém de seu meio, Presidente do pais, Luiz Inácio Lula da Silva. Fou uma virada de magnitude histórica.

Há dois projetos em ação: um é o neoliberal ainda vigente no mundo e no Brasil apesar da derrota de suas principais teses na crise econômico-financeira de 2008. Esse nome visa dissimular aos olhos de todos, o caráter altamente depredador do processo de acumulação, concentrador de renda que tem como contrapartida o aumento vertiginoso das injustiças, da exclusão e da fome. Para facilitar a dominação do capital mundializado, procura-se enfraquecer o Estado, flexibilizar as legislações e privatizar os setores rentáveis dos bens públicos.

O Brasil sob o governo de Fernando Henrique Cardoso embarcou alegremente neste barco a ponto de no final de seu mandato quase afundar o Brasil. Para dar certo, ele postulou uma população menor do que aquela existente. Cresceu a multidão dos excluidos. Os pequenos ensaios de inclusão foram apenas ensaios para disfarçar as contradições inocultáveis.
Os portadores deste projeto são aqueles partidos ou coligações, encabeçados pelo PSDB que sempre estiveram no poder com seus fartos benesses. Este projeto prolonga a lógica do colonialismo, do neocolonialismo e do globocolonialismo pois sempre se atém aos ditames dos paises centrais.

José Serra, do PSDB, representa esse ideário. Por detrás dele estão o agrobusiness, o latifúndio tecnicamente moderno e ideologicamente retrógrado, parte da burguesia financeira e industrial. É o núcleo central do velho Brasil das elites que precisamos vencer pois elas sempre procuram abortar a chance de um Brasil moderno com uma democracia inclusiva.

O outro projeto é o da democracia social e popular do PT. Sua base social é o povo organizado e todos aqueles que pela vida afora se empenharam por um outro Brasil. Este projeto se constrói de baixo para cima e de dentro para fora. Que forjar uma nação autônoma, capaz de democratizar a cidadania, mobilizar a sociedade e o Estado para erradicar, a curto prazo, a fome e a pobreza, garantir um desenvolvimento social includente que diminua as desigualdades. Esse projeto quer um Brasil aberto ao diálogo com todos, visa a integração continental e pratica uma política externa autônoma, fundada no ganha-ganha e não na truculência do mais forte.
Ora, o governo Lula deu corpo a este projeto. Produziu uma inclusão social de mais de 30 milhões e uma diminuição do fosso entre ricos e pobres nunca assistido em nossa história. Representou em termos políticos uma revolução social de cunho popular pois deu novo rumo ao nosso destino. Essa virada deve ser mantida pois faz bem a todos, principalmente às grandes maiorias, pois lhes devolveu a dignidade negada.

Dilma Rousseff se propõe garantir e aprofundar a continuidade deste projeto que deu certo. Muito foi feito, mas muito falta ainda por fazer, pois a chaga social dura já há séculos e sangra.

É aquí que entra a missão de Marina Silva com seus cerca de vinte milhões de votos. Ela mostrou que há uma faceta significativa do eleitorado que quer enriquecer o projeto da democracia social e popular. Esta precisa assumir estrategicamente a questão da natureza, impedir sua devastação pelas monoculturas, ensaiar uma nova benevolência para com a Mãe Terra. Marina em sua campanha lançou esse programa. Seguramente se inclinará para o lado de onde veio, o PT, que ajudou a construir e agora a enriquecer. Cabe ao PT escutar esta voz que vem das ruas e com humildade saber abrir-se ao ambiental proposto por Marina Silva.
Sonhamos com uma democracia social, popular e ecológica que reconcilie ser humano e natureza para garantir um futuro comum feliz para nós e para a humanidade que nos olha cheia de esperança.

Fonte: http://www.advivo.com.br/luisnassif/



Marapanim: terra de gente boa

A convite de Sebastião Junior ( babá),  Presidente do Partido dos Trabalhadores, o poter está em constante visita ao município de Marapanim-Pa,  distante da capital a 120 km. Localizado na região do nordeste do Pará, tendo uma população estimada de 27 mil habitantes e uma área de 799,2,99 Km.

O poster presta esta Justa e Perfeita homengem ao Mestre Babá que vem ao longo de anos trabalhando na organização dos trabalhadores, além da defesa da bandeira do meio-ambiente com sustentabilidade...





domingo, 10 de outubro de 2010

A CHARGE FALA POR SI...

Perfil – Benedito Nunes


Ao 80 anos, o professor paraense Benedito Nunes fala das relações entre poesia, filosofia e crítica literária


Eduardo Fonseca

Benedito Nunes é um pensador raro. Nascido em 21 de novembro de 1929, o paraense acumula em sua biografia declarações entusiasmadas sobre sua produção, celebrada no meio acadêmico como uma sensível conjugação de crítica literária com filosofia. Antonio Candido, por exemplo, declarou que Nunes é um intelectual admirável sob vários aspectos: pela grandeza e originalidade da inteligência, pela discrição de seu caráter, pelo senso do dever e pela retidão moral, características que nem sempre os grandes pensadores possuem em conjunto. Clarice Lispector dizia que o ensaísmo de Nunes era “algo diferente, que não sei o que é”. Essa mesma ambiguidade, aliás, seria desenvolvida pelo filósofo, anos depois, para qualificar seu próprio estilo: “Clarice percebia que meu interesse intelectual não nasce nem acaba no campo da crítica literária. É ampliado à compreensão das obras de arte e extensivo à interpretação da cultura e à explicação da natureza”.

A trajetória de Nunes inclui passagens pela Universidade de Berkeley (EUA) e pela Sorbonne (França). Nesta última, frequentou os cursos de Maurice Merleau-Ponty e Paul Ricoeur, pensadores fundamentais para a filosofia no século 20. Nunes não deixou de circular por grandes cidades. Mas é um desses intelectuais que, nas palavras de Candido, “resistem ao magnetismo das metrópoles”, alguém que “não renuncia à sua província”. Belém foi mesmo a plataforma de onde projetou boa parte de suas ideias. “Houve várias tentativas de sair que não deram certo. Depois de um tempo, comecei a reconhecer que era melhor ter o pé fixo aqui”, diz, com a humildade que lhe é característica. Foi um dos fundadores do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Pará e, em 1976, trouxe o filósofo francês Michel Foucault para uma série de palestras em Belém. O autor de As Palavras e as Coisas aproveitou a estadia e o convite de Nunes para conhecer a Ilha de Mosqueiro, um distrito a 70 quilômetros da capital paraense, cujas praias de areia clara e água doce com ondas que chegam a 1 metro e meio de altura o surpreenderam. “Foucault nunca tinha visto praia de rio com influência de maré e onda”, conta com satisfação.
Livros como O Dorso do Tigre, O Tempo na Narrativa, Passagem para o Poético mostram de que maneira Nunes procurou dosar, com justa medida, o discurso filosófico e a crítica literária. Antonio Candido indicou com precisão a riqueza desse movimento pendular: “O filósofo traz para a literatura o nível de reflexão e de abstração que os críticos geralmente não trazem; ele leva para a filosofia um sentimento estético e um senso de beleza que os pensadores nem sempre têm”. Nunes, um dos responsáveis por introduzir o pensamento de Martin Heidegger no Brasil, viu muito cedo nas obras do filósofo alemão um feliz encontro entre a filosofia e a poesia. “Existe muito de poético no Ser e Tempo. E é a esse tipo de produção que o crítico deve estar atento”, ou seja, a textos em que a poética é utilizada para atingir uma expressão ainda virgem, quando nem a filosofia nem a ciência dão conta ainda de verbalizar o momento. Pois é “no instante em que surge algo novo, que a linguagem recorre ao poético para expressar essa coisa nova. Assim, forma-se um ciclo que faz com que só a poesia tenha capacidade de vislumbrar algo além daquilo que é empírico e histórico. Daquilo que já está dado”. A poesia seria, então, a linguagem do gênesis, de algo que ainda está por ser consolidado. Se o crítico fosse um garimpeiro, ela seria a sua mina de ouro.

Momento crítico

O grande problema, para o professor, é que essa expressão poética não se desenvolveu como deveria, predominando hoje uma linguagem mais rasa e repetitiva no discurso da crítica e da filosofia. O “surto poético”, para Nunes, deixou de ser valorizado. São vários os motivos para isso, mas o principal diz respeito à “aglutinação da cultura” que “sedimenta a experiência”, fazendo com que não haja mais uma visão primogênita da realidade. Sem a visão originária das coisas, “diversas camadas de sentido incorporaram variadas tradições em uma só convergência”. Como resultado, “dentro desse ponto de vista, a situação cultural hoje se encontra num momento muito difícil”.

A figura do crítico cultural também passou a ser secundária. Os críticos já não escrevem tanto para os jornais e, com isso, perdem sua autoridade fora do cerco universitário. “Sem espaço para a crítica, criou-se uma espécie de não literatura dentro da literatura. Há muito lixo. E quem vai selecionar isso? Quem se interessa em editar isso? A voz do crítico perdeu ressonância. O papel dele era refletir sobre o texto e levá-lo ao conhecimento dos outros, gerando discussão. Agora, não há mais ninguém para ordenar esse diálogo.”

Existe, porém, uma convergência que o filósofo paraense vê como uma espécie de marca distintiva de grande parte da produção literária contemporânea, principalmente a feita em prosa: o conflito. E, uma vez que “o romance espelha as vicissitudes do seu tempo”, a incapacidade deste em transmitir uma experiência comum e primogênita é o resultado mais visível desse processo. Em um mundo em que a cultura está cada vez mais “aglutinada”, os conflitos de qualquer natureza (sociológicos, psicológicos etc.) que derivam daí estabelecem a base da literatura produzida hoje, seja no Pará, seja no Rio Grande do Sul, independentemente do cenário ou da trama. “Vivemos numa sociedade fragmentada, em que não temos a quem nos reportar. O que nos resta é o conflito que, por sua vez, se diversifica conforme as circunstâncias. A princípio, pode parecer uma questão contingencial, mas, no fundo, é existencial também”, pondera Nunes.

Lembranças remotas

Não é de estranhar que hoje esse senhor calmo e solícito valorize tanto seu microcosmo. Seguro numa espécie de oásis no meio da selva urbana de Belém, que chama carinhosamente de sua “concha existencial”, Nunes resguarda do mundo conflitivo as coisas que mais ama: seus livros, sua mulher, seu gato, seu cachorro, suas samambaias, seu conforto.

Sua concha lhe permite idealizar aquilo que é tido por muitos como um martírio: a velhice. “Ainda tenho os benefícios da idade ideal que eu mesmo forjo na minha cabeça”, diz, de maneira espirituosa. Tática que o ajuda a lidar com a vida cotidiana, fazendo com que ele possa ignorar, “enquanto há saúde”, a carga do tempo. “É interessante, mas o tempo não me angustia, afinal, vivemos no dia a dia e é esse dia a dia que absorve a gente.”

Embora tenha criado o atual departamento da UFPA, Nunes não se formou em filosofia. Graduou-se em direito no Pará, mas a vida jurídica nunca passou por sua cabeça. Dessa época, sua maior conquista foi mesmo Maria Sylvia, esposa e companheira que está a seu lado desde 1953.

Da mesma forma que dispensou a vida nos tribunais, Nunes dispensa também as honras de qualquer tipo de academia, pois, desde os 14 anos de idade, já faz parte de uma. E, “uma vez imortal, não se pode sê-lo duas vezes”, diz. Sobre essa instituição da qual é sócio-fundador, ele fala com gosto. Aos 80 anos, parece que a lembrança ganha autoridade. Ele, então, nos pede um instante, vai até outro recinto e retorna trazendo nas mãos um texto com as memórias desse tempo, no longínquo ano de 1943, quando ele e mais um grupo de amigos tiveram a oportunidade de ter em mãos o anuário da Academia Brasileira de Letras: “Nosso padrão associativo ideal”,
conta, rindo. Fascinados com tanta soberba, os garotos resolveram criar sua própria agremiação. “Era muito engraçado. Chamava-se ‘Academia dos Novos’. A sede era a casa da minha tia, uma casa bonita, com móveis antigos. Cada membro sentava-se na sua cadeira austríaca. Éramos apóstolos do parnasianismo e contra a desagregação modernista!”.

Hoje, além de escrever algumas memórias pessoais, como essa citada acima, ele se dedica a fazer um apanhado de sua produção, lendo e modificando, quando necessário, alguns textos antigos. Também leciona num curso livre e gratuito de filosofia no Centro de Cultura e Formação Cristã, em Ananindeua, cidade da região metropolitana de Belém. Para aqueles que moram na região, é uma oportunidade única de ver e ouvir, fora de sua concha, um dos maiores pensadores brasileiros da atualidade.

ENTREVISTA na Revista Cult

Quarenta anos depois, Benedito Nunes responde novamente a duas perguntas feitas por Clarice Lispector

Neste mês, chega às livrarias uma belíssima compilação de ensaios de Benedito Nunes batizada de A Clave do Poético. Separados por temas (“Pensando Literatura”, “Teoria Literária”, “Crítica de Autores”, entre outros), o material destaca textos produzidos em épocas distintas, que fornecem um recorte abrangente do pensamento do filósofo e crítico paraense. Entre os ensaios, há uma entrevista concedida a Clarice Lispector no fim da década de 1960. Aproveitamos a ocasião para forjar um reencontro da escritora com o autor de O Mundo de Clarice Lispector, primeiro livro dedicado inteiramente à obra dela, lançado em 1966. Repetimos, 40 anos depois, as duas primeiras perguntas da entrevista:

CULT – O que está acontecendo com a literatura brasileira, hoje?

Benedito Nunes – Acredito que até hoje a literatura brasileira ainda não colheu os frutos da vida universitária. Encontra-se segregada dos polos produtivos. E isso é lamentável. Se antes a própria cidade gerava um ambiente em que se fomentavam polêmicas sobre obras que estavam sendo feitas, esse ambiente não se repetiu e não tem mais como se repetir no mesmo espaço. Era um ambiente em que a crítica tinha um papel fundamental. Mas, banida da vida na cidade, a crítica deveria ter se voltado para as universidades. Para mim, a universidade deve ocupar o espaço que um dia foi do centro da cidade. Hoje, o jeito como as cidades são constituídas freia muito o desenvolvimento humano e social. Por outro lado, há também um conformismo muito grande na universidade. Ela estabilizou-se, passando a alimentar certo conformismo oficial em que cada um tem seu lugar garantido e se isola em seu ninho. E mesmo esse gigantismo das universidades, onde tudo funciona em massa, contribui para essa situação. É muito difícil conduzir a massa. Encontramos, então, uma multidão comprimida em sala de aula e pouco participativa. Some-se a isso o meio de leitura, que mudou. Hoje, ocorre uma diversificação real da leitura, cada um está lendo algo diferente, falta foco, falta discussão aprofundada. Devido a essa lacuna, há o predomínio de textos mais diretos, de caráter informativo, voltados para as multidões, de resenhas em vez de críticas.

CULT – O que tem a ver o modernismo com a cultura brasileira?
Benedito – Do ponto de vista atual, houve um confinamento muito grande do modernismo. Quando falamos em modernismo, nos referimos normalmente ao modernismo de São Paulo. Mas houve grandes análogos em outros estados, e isso ainda não foi explorado. A universidade poderia convergir suas atividades para esse ponto, de apurar a contribuição do modernismo em outros estados, pois não se fez o estudo das outras províncias. Tenho a impressão de que carecemos desse tipo de informação. Por outro lado, o modernismo não existe mais na atual geração, só nos livros de história. Na produção cultural, o movimento não existe. O modernismo não fez uma tradição forte que tenha se firmado. Hoje, ele se resume a um fato histórico, não a uma tradição, pois não se integrou à experiência das atuais gerações do país. Seu grande valor foi deixar essa mensagem de revolta literária, de revide a uma situação determinada.

Fonte: Revista Cult

Bioenergia

Empresas reaproveitam o óleo de cozinha


DAYANA AQUINO
Da Redação - ADV

No rastro da sustentabilidade, empresas tomam iniciativas para tornar suas atividades mais limpas. Embora ainda embrionárias diante da real possibilidade de práticas mais responsáveis, as ações esboçam um real futuro de novas possibilidades energéticas.

Uma das ações é a reutilização do óleo restante do preparo de refeições em restaurantes, sendo destinado à produção de biodiesel. O Projeto Brasil Biodiesel, vem na fila do reaproveitamento, transformando os resíduos do óleo de cozinha em biocombustível. O projeto é liderado pelas empresas Martin-Brower e McDonald’s. O trabalho já utiliza o cenário de uma futura adição de 20% de biodiesel puro ao diesel mineral

“Neste projeto já trabalhamos com a utilização de B20 em alguns caminhões e estamos obtendo resultados bem positivos. No futuro a estimativa é que esta porcentagem cresça e estimule outras empresas a também utilizarem este tipo de produto como um exemplo de ação bem sucedida”, afirma Haroldo Barros, sócio-diretor da SP Bio.

Barros explica que apenas as fritura de batatas e empanados McDonald’s geram cerca de três milhões de litros de óleo de cozinha por ano, o que possibilitaria abastecer com biodiesel B40 toda a frota de caminhões que atendem a rede no país.

Por enquanto o projeto está na fase experimental. A Martin-Brower, empresa de logística de alimentos, ao entregar os produtos, recolhem o óleo dos restaurantes.
Hoje, a SP BIO recebe óleo de 20 lojas do McDonald’s, que já são capazes de abastecer cinco caminhões, sendo quatro com B20 e um com B100, isto é, 20% e 100% de óleo de cozinha reciclado, respectivamente.

Os testes foram iniciados em junho de 2009 e são liderados pela Martin-Brower e Arcos Dourados e envolvem outras nove empresas parceiras – Volkswagen, Shell, Thermo King, SP BIO, Tietê Caminhões e Ônibus, MWM International, Cummins, Tek Diesel e a ATA - Ativos Técnicos e Ambientais, como coordenação e consultoria do projeto.

Iniciativa semelhante foi iniciada no ano passado no Distrito Federal, reaproveitando o óleo de fritura usado em bares e restaurantes de Brasília pra abastecer parte da frota local. A ação envolve a Embrapa e a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), desenvolvedoras do projeto, em parceira com a Emater/DF, Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília e a Centro Federal de Educação Tecnológica de Brasília (CEFET/DF).

Nesse caso, a preocupação maior da Embrapa e dos parceiros é evitar a contaminação das estações de tratamento de água, visto que, grandes volumes de recursos são gastos com produtos químicos para neutralização dos óleos residuais provenientes de frituras que chegam aos esgotos. A eliminação destes resíduos proporcionará redução de custos com o tratamento de água, além de significativo ganho para a sociedade visto que elimina-se um passivo ambiental resultante da emissão de produtos químicos ao meio ambiente.

Estudo

Já o estudo desenvolvido pela Coppe – UFRJ apresenta a proposta de produzir biodiesel no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro. Bairro turístico conhecido mundialmente, concentra uma grande quantidades de bares e restaurantes, o que viabilizaria o projeto.

De acordo com o estudo, há viabilidade econômica e ambiental para a instalação de uma usina piloto. O levantamento realizado em 190 estabelecimentos apontou que quase a totalidade dos 130 mil litros de óleo de fritura são desperdiçados na rede de esgoto.

De acordo com o coordenador do projeto, professor Rogério Valle, do Laboratório de Sistemas Avançados de Gestão da Produção (Sage) da Coppe, a iniciativa, além de evitar os danos por esse modelo de desperdício de óleo, poderá dar origem ao biocombustível. O sistema de coleta nos bares, restaurantes e hotéis poderia ser feito a partir de uma empresa cooperativa, que se beneficiaria da venda do óleo para a planta piloto.

Os impactos ambientais foram avaliados por meio da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), método que analisa o produto desde a extração da matéria-prima necessária à sua fabricação até o destino final. Para elaborar o modelo, o estudo utilizou dados da planta-piloto do laboratório do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (Ivig), da Coppe, com capacidade de produção de 250 litros de biodiesel a cada duas horas. Hoje a usina piloto tem capacidade de produzir 25 mil litros por dia.

O uso do óleo de fritura para produção de biodiesel não é novidade. Diversos estudos dão conta da viabilidade de produção, mas os custos com a logística ainda podem ser um obstáculo. Além de onerar o valor final do produto, a queima de diesel no transporte pode resultar em uma conta não favorável ao meio ambiente.

Fonte: Portal Luis Nassif

Meio Ambiente

Extrativismo manejado pode gerar R$ 4,4 bi a Calha Norte
O extrativismo manejado de madeira e castanha-do-brasil pode incrementar a economia da Calha Norte – região do extremo Norte do país – e gerar empregos. No horizonte de 2011 a 2030, as atividades podem gerar R$ 4,4 bilhões e criar 8.986 empregos diretos e indiretos, já a partir de 2013. É o que aponta levantamento realizado pelo Instituto do Homem e do Meio ambiente da Amazônia (Imazon).

De acordo com o relatório, governos federal, estadual e municipal poderão arrecadar R$ 887 milhões, em valores de 2010, ao longo desse período, o que corresponde a 20%do faturamento bruto dessas atividades.

Cadeia da Castanha

O estudo projeta que as florestas da região apresentam potencial de produção de 2.267 toneladas de castanha, o suficiente para gerar R$ 181,5 milhões em receitas no período de 2011-2030, a uma taxa de desconto de 6% ao ano; R$ 7,3 milhões em impostos; e 328 novos empregos diretos e indiretos em tempo integral.

Considerando a produção de 75.562 caixas por ano na Calha Norte e um preço de venda às usinas processadoras de R$ 45 por caixa em 2009, um aumento anual no preço da castanha de 14% e uma taxa de desconto de 6% ao ano, a extração de castanha pode gerar um total de R$ 181,5 milhões no período de 2011 a 2030, em valores de 2010.

Com base no pagamento aos coletores, R$ 15 por caixa, a receita total desses trabalhadores no período pode ficar em R$ 60,5 milhões. E para os atravessadores, assumindo-se que eles recebam R$ 30 por caixa, a receita total pode chegar a R$ 121 milhões.

Com base na receita total estimada no período de 2011 a 2030 de R$ 181,5 milhões, a receita estimada do governo federal será de R$ 5,0 milhões e a receita estimada do governo estadual será de R$ 2,3 milhões, totalizando R$ 7,3 milhões de arrecadação do setor público.

Madeira

O documento ressalta que considerou o potencial econômico da extração da madeira em pé quanto do seu processamento, isso porque o Governo do Pará planeja conceder 600 mil hectares da Flota do Paru (a partir de 2011) e 200 mil hectares da Flota de Faro e 50 mil hectares da Flota do Trombetas (ambos a partir de 2013) para a iniciativa privada. A Lei de Gestão de Florestas Públicas que regula essas concessões estipula que toda a madeira extraída de UC seja serrada no município por onde a madeira é retirada.

“A Flota do Paru tem capacidade para produzir aproximadamente 129,5 mil metros cúbicos de madeira serrada por ano, enquanto as Flotas do Trombetas e de Faro poderiam produzir 54 mil metros cúbicos”, diz o relatório. Logo, as três florestas produziriam um total de 183,5 mil metros cúbicos de madeira serrada por ano a partir de 2013. A estimativa do instituto para o preço médio da madeira nas três florestas para o ano de 2009 seria R$ 891 por metro cúbico, em valores de 2009.

O inventário, extração e processamento de madeira de forma manejada nas três Flotas da Calha Norte têm o potencial para gerar um total de 2.829 novos empregos diretos por ano e 5.830 novos empregos indiretos, somando 8.658 novos postos de trabalho em
tempo integral.

Para o levantamento, foram consultados organizações públicas, privadas e não governamentais, como o Instituto Floresta Tropical (IFT), a
Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Pará (Sema), o Instituto de
Desenvolvimento Florestal do Estado do Pará (Ideflor), o Instituto de
Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), a Cooperação
Técnica Alemã (GTZ) e empresas privadas madeireiras e de castanha
atuantes na região.

Fonte: Portal Luis Nassif

sábado, 9 de outubro de 2010

Entrevista com Milton Santos -1/5

O Outro Brasil que Vem Aí




Gilberto Freire - 110 anos

Gilberto Freyre:

Sociólogo, antropólogo, historiador social, escritor, Gilberto Freyre (1900-1987), além de autor de uma vasta obra científica e literária, também foi um criador de instituições, a exemplo da própria Fundação Joaquim Nabuco, do Seminário de Tropicologia e da Fundação Gilberto Freyre. Neste espaço virtual, são apontados links em que o internauta/pesquisador poderá ampliar ainda mais seu conhecimento sobre esse importante intelectual brasileiro.

Acessar: http://www.fundaj.gov.br



O Outro Brasil que Vem Aí

Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
de outro Brasil que vem aí
mais tropical
mais fraternal
mais brasileiro.
O mapa desse Brasil em vez das cores dos Estados
terá as cores das produções e dos trabalhos.
Os homens desse Brasil em vez das cores das três raças
terão as cores das profissões e regiões.
As mulheres do Brasil em vez das cores boreais
terão as cores variamente tropicais.
Todo brasileiro poderá dizer: é assim que eu quero o Brasil,
todo brasileiro e não apenas o bacharel ou o doutor
o preto, o pardo, o roxo e não apenas o branco e o semibranco.
Qualquer brasileiro poderá governar esse Brasil
lenhador
lavrador
pescador
vaqueiro
marinheiro
funileiro
carpinteiro
contanto que seja digno do governo do Brasil
que tenha olhos para ver pelo Brasil,
ouvidos para ouvir pelo Brasil
coragem de morrer pelo Brasil
ânimo de viver pelo Brasil
mãos para agir pelo Brasil
mãos de escultor que saibam lidar com o barro forte e novo dos Brasis
mãos de engenheiro que lidem com ingresias e tratores europeus e norte-americanos a serviço do Brasil
mãos sem anéis (que os anéis não deixam o homem criar nem trabalhar).
mãos livres
mãos criadoras
mãos fraternais de todas as cores
mãos desiguais que trabalham por um Brasil sem Azeredos,
sem Irineus
sem Maurícios de Lacerda.
Sem mãos de jogadores
nem de especuladores nem de mistificadores.
Mãos todas de trabalhadores,
pretas, brancas, pardas, roxas, morenas,
de artistas
de escritores
de operários
de lavradores
de pastores
de mães criando filhos
de pais ensinando meninos
de padres benzendo afilhados
de mestres guiando aprendizes
de irmãos ajudando irmãos mais moços
de lavadeiras lavando
de pedreiros edificando
de doutores curando
de cozinheiras cozinhando
de vaqueiros tirando leite de vacas chamadas comadres dos homens.
Mãos brasileiras
brancas, morenas, pretas, pardas, roxas
tropicais
sindicais
fraternais.
Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
desse Brasil que vem aí.

Sebastiao Salgado




O maior fotógrafo...

João Quaresma


A estrela de seis pontas é um símbolo muito conhecido, usado como talismã, amuleto atrativo de energias positivas recomendado contra qualquer tipo de adversidade, natural ou "sobrenatural". É confecionada como figura ou objeto e atualmente pode ser encontrada ornamentando ambientes, roupas, publicações e objetos como medalhas, pingentes e anéis. Nos livros de todos os bons mestres ocultistas do Ocidente existem comentários a este símbolo, também conhecido como Estrela de Davi e Sêlo de Salomão, denominações que indicam sua antiguidade. De fato, a estrela com seis pontas remonta às eras pré-cristãs, época veramente nebulosas, e não é uma exclusividade da cultura judaica; ao contrário, pertence ao acervo de signos mágicos de diferentes povos em diferentes épocas.

A estrela é um legado que os patriarcas de Israel receberam no contexto do sincretismo religioso resultante do encontro das culturas hindu-arianas (Índia) e semitas da Mesopotâmia (atual Iraque). Desde Abraão, a estrela atravessou séculos até chegar ao Rei Salomão, filho do Rei Davi. Os segredos da estrela foram revelados a Salomão como parte de sua iniciação nos Mistérios de Deus. Salomão, ícone representativo de sabedoria, foi, realmente, um Mago, ou seja, um conhecedor de forças metafísicas. A "lenda histórica" conta que Salomão obteve a revelação das Ciências Ocultas de fonte divina, Ciência esta que consiste na Cabala Judaica, "magia" das relações de poder entre números e palavras.

A Cabala trata do controle da energia mental (ou pensamento) através de um sistema de rituais (ações repetidas) onde se destaca a utilização de símbolos acompanhados de invocações (falas, chamados, fórmulas verbais, versos, orações). A estrela de seis pontas é considerada o mais poderoso dos símbolos mágicos cabalísticos, usado como objeto de meditação sempre que se deseja uma conexão com Deus. Tal meditação pretende alcançar um estado de consciência, que não é sono nem vigília, caracterizado pela experiência de esquecimento ou abstração do Ego pessoal (a personalidade condicionada pelo mundo) e consequente sentimento de identificação com o Eu Real, o Eu superior que é Uno ou indissociável do Criador de Todas as Coisas. Esta unidade do homem com Deus é a razão pela qual todas as religões do mundo afirmam que "Deus está dentro de cada um de nós". O "Namastê", cumprimento dos japoneses, significa "O Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em Você".


FUNDAMENTOS PITAGÓRICOS

Pitágoras foi um filósofo grego dedicado a estudos matemáticos e reconhecidamente um Iniciado Ocultista. Em seu sistema de explicação da realidade, considerava o "Número" como matriz metafísica do universo objetivo, ou seja, a realidade emana de combinações de "entidades numéricas" realizadas num plano ontológico sutil (plano de Ser abstrato, não físisco), não perceptível aos sentidos humanos. Quando Pitágoras diz "Número" está querendo significar ser ou seres metafísicos e primordiais. Cada número, em escala de 1 a 9, representa uma "entidade metafísica" ou uma realidade, uma situação metafísica que evolui até se projetar em uma realidade concreta.

Na física subatômica, partículas matrizes (eletróns, prótons, neutrons, mésons, pósitrons, etc.) se combinam de maneiras diferentes na composição de substâncias diferentes. Na física atômica, elementos (hidrogênio, oxigênio, hélio) estabelecem "ligações" formando compostos, como a água - H2O ou 2 átomos de hidrogênio e 1 átomo de oxigênio. Note-se que partículas e átomos, invisíveis aos olhos humanos são constituintes de toda a matéria perceptível inclusive os corpos das criaturas. Isto demonstra como, a partir da dimensão do invisível surgem as criaturas na dimensão do visível, ou ainda, o que é invisível para a vista dos homens pode ser tornar visível com um dispositivo ótico mais poderoso, como um microscópio eletrônico.

GEOMETRIA & MATEMÁTICA DA ESTRELA

A relação da Estrela de Davi com a Cabala e por conseguinte com a matemática reside em um fato evidente: a estrela é uma figura geométrica e, portanto, diretamente associada às relações entre grandezas matemáticas. Como figura geométrica, a estrela é composição de dois triângulos equiláteros (triângulo que tem os três lados iguais e portanto os três ângulos proporcionalmente iguais) e de iguais dimensões (com igual comprimento dos lados). Estas igualdades são um primeiro indicativo de equilíbrio da figura.

Matematicamente, à primeira vista, a estrela está associada ao número 6. Ocorre que este número é um número composto, ou seja, é decomponível, como uma substância química composta homogênea é decomponível em um laboratório. A divisão de um número aos seus componentes mínimos chama-se redução. A redução revela quais são os valores que se relacionam na produção de um resultado. O 6, reduzido, mostra uma relção entre 3 e 2.

6 = 3x2 e é necessário falar essa proposição para perceber seu significado amplo "3 multiplicado duas vezes", ou um "3" que "se torna em "dois 3". Em operação de soma, 6=3+3 e ambas as operações, adição e multiplicação são apenas códigos que representam uma igualdade abstrata: 3x2= 3+3 =6. Decompor um número é como descobrir os genitores, a origem, o como se constituiu este número. Pitagorigamente, decompor um número é encontrar a essência de um Ser. Conhecendo o número que representa um Ser ou uma situação da realidade terrena, poder-se-ia, teoricamente, conhecer a essência, a causa primordial de tal Ser ou situação.

PODER DA ESTRELA

Quem usa a estrela, como um objeto, um colar, um anel, ou coloca sua figura em um ambiente, está fazendo uma declaração de adesão aos significados que ela encerra. Voltando à "entidade metafísica Número 3", ainda de acodo com Pitágoras e numerosos outros mestres esotéricos, tal Número corresponde a uma "entidade" muitíssimo elevada em termos espirituais ou, de pureza energética: Aquele a quem todo mundo chama de Deus e que todas as religiões descrevem como sendo "o Um que é Três".

A teologia católico-cristã ocidental reconhece esta concepção à qual denomina de Santíssima Trindade explicando que EM Deus, que é UM, coexistem TRÊS aspectos que se manifestam no ato de Criação. Estes três aspectos são: Pai, Filho e Espírito Santo. Criador, Criatura e a Mente Una, esta última, que opera a união indissoluta dos dois primeiros. Quanto ao modo como Deus pode ser TRÊS EM UM, esta é uma questão cuja resposta é simplesmente inacessível à inteligência humana no seu estágio atual de evolução. Os teólogos chamam esta condição de inacessibilidade de "Mistério".

Uma vez que se admita DEUS TRÊS EM UM é preciso esclarecer que este é o estado do Ser Criador em circunstância de repouso, de não-criação, estado também misterioso que o hinduismo denomina Pralaya ou Noite de Brahma. Os físicos contemporâneos afirmam, de forma semelhante, que o Universo existe em dois estados simultâneos que compreendem o SER e o NÃO-SER, ou ainda, Universo Objetivo e Universo Subjetivo. O triângulo com o vértice (ponta) para cima é uma representação geométrica de Deus em seu estado mais puro e elevado, sutil, abstrato, não manifestado. Quando Deus se manifesta ou cria, projeta suas infinitas possibilidades de SER em uma constituição densa, material, física, concreta, em uma escala ontológica (de formas de ser) que compreende diferentes graus materialidade. Retomando a análise do triângulo: voltado para cima, representa Deus em sua misteriosa condição de Trindade, a Realidade Celestial ou Espititual. Em oposição, o triângulo com vértice para baixo, significa a Criação de Deus, Realidade Terrena ou Material. A estrela de seis pontas é, portanto, o signo da união dos dois triângulos e, portanto, signo da união entre Criador e Criatura, do Homem unido a Deus.

Fonte: http://mahabaratha.vilabol.uol.com.br