Ganhador do Nobel de Literatura participou de conferência em Porto Alegre
Alexandre Haubrich, iG Porto Alegre - 15/10/2010 09:40
Vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, o escritor peruano Mario Vargas Llosa foi aplaudido de pé em sua entrada no palco do Salão de Atos da UFRGS, em Porto Alegre. Para uma plateia que lotou o grande espaço do salão, Vargas Llosa leu seu “Breve discurso sobre cultura” e arrancou algumas risadas e muitas balançadas de cabeça afirmativas.
Durante mais de uma hora, o escritor peruano buscou mostrar ao público sua visão sobre a situação da cultura hoje. Fez críticas ao momento cultural e ao conceito de cultura que elimina hierarquias, que, bem intencionado, faz com que antropólogos, por exemplo, evitem falar em culturas superiores e inferiores.
Vargas Llosa disse que o conceito de cultura modificou-se com o passar das épocas, mas que a diferença entre cultos e incultos sempre esteve marcada, o que deixou de acontecer. Para ele, a “era da especialização” fez com que se perdesse a noção do todo, fundamental na construção cultural. Isso fez com que todos se tornassem cultos ao mesmo tempo que incultos, pois “tudo se tornou cultura, ao mesmo tempo em que tudo deixou de sê-la”.
Maio de 68 e o fim da autoridade
Em seguida, o escritor fez um apanhado dos descaminhos da noção de autoridade a partir de Maio de 68, e disse que a educação, fundamental para o fortalecimento da cultura, perdeu muito com isso. Afirmou que os professores perderam credibilidade e autoridade moral, enquanto o verdadeiro poder não sofreu arranhões com a ânsia libertária dos jovens franceses, que se espalhou pelo mundo. “A autoridade clássica, do saber e da moral, da credibilidade, praticamente acabou, mas o poder não foi atingido.”
Por fim, após criticar as especializações demasiadas, Llosa chegou à sua especialidade: a literatura. Aí mostrou-se mais entusiasmado, sua fala ganhou mais força, e defendeu vigorosamente uma literatura em constante diálogo com a realidade. Afirmou que a literatura pode ser paixão, poesia, pensamento, reflexão, “mas não pode apartar-se da vida real, da vida vivida”.
Porém, Vargas Llosa não se mostrou otimista com esses caminhos. Principalmente, não se mostrou contente com o que vê no momento. Com tudo se dissolvendo na pós-modernidade, com as culturas perdendo suas formas de afirmação, com as especializações chegando ao extremo de ignorar as interações, a literatura parece, para ele, ir pelo mesmo caminho, em direção a uma realidade paralela.
Llosa acredita que a cultura traça uma rota desviada. Disse que hoje “a cultura é um vistoso, mas frágil castelo de areia, que se desfaz ao primeiro golpe do vento”. Porém, ressaltou, é o homem quem constrói a história que vive e viverá.
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