Uma bela homenagem da jornalista Rosana Hermann a João Gilberto, que neste dia 10.06.2011 completa 80 anos.
Querido João,
Eu não sei onde você está agora nesse momento, no dia em que você completa 80 anos. Se eu soubesse, juro que eu iria até lá pra olhar você de longe. Bem de longe. Por mais que eu tivesse vontade, não chegaria perto pra dar um abraço porque sei o quanto você é avesso a esse tipo de demonstração tresloucada de afeto. Sou sua fã, sempre fui e sei das suas idiossincrasias. Das suas lendas e mitos, das suas ausências nos próprio shows, dos gatos que pulam da sua janela depois de tantas horas repetidas ensaiando um mesmo acorde. Eu nunca pulei da sua janela, mas já fui a alguns de seus shows. Eu ria sozinha quando você reclamava do som, do ar condicionado, da plateia, de tudo. Acho que vejo um pouco do jeito ranzinza de meu pai em você. Dá saudade.
Saudade. Suas canções, seu jeito pequeno de cantar, tão certo que parece errado, sua voz minúscula que exige uma multidão de silêncios a sua volta para calmamente vibrar o ar e emitir seu som. Seu jeito de artista meio autista, ensimesmado em seu mundo próprio das afinações. Você canta pra ser ouvir, buscando a perfeição sonora. A gente fica ali, só observando, com medo de atrapalhar.
Como tanta gente da minha geração, usei você como trilha sonora de muitos momentos de paixão, saudade, dor de cotovelo, celebração. Estate era pra sofrer, Avarandado era pra rejubilar. Vou publicar as duas aqui, João. Se você visse o post, você iria se queixar de tudo. Da existência da Internet, dos blogs, de mim, das versões que escolhi. Não ligo. Fã que é fã é assim, sofre e aguenta, chora e aceita.
Fonte: http://musicamagia.wordpress.com/
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