domingo, 30 de outubro de 2011

Lenda Amazônica: O Japim

O Japim - Baixo Tocantins - Arquivo Terceira Via
O Ninho e o Vespeiro - Arquivo Terceira Via
A Mangueira e os Ninhos - Vila Fazendinha - Marapanim -Pa - Foto: Ernando Pinto

A Mangueira e os Ninhos - Vila Fazendinha - Marapanim -Pa - Foto: Ernando Pinto

Luís Câmara Cascudo, em sua sabedoria inconteste, dizia que no Brasil tudo estava por começar. Na verdade, ainda não começamos a conhecer nosso grande país à luz da realidade. Nesta imensidão tropical existe uma cultura milenar que precisa ser conhecida por todos brasileiros. Uma cultura totalmente nossa que deve ser preservada, respeitada e cultuada.

Estes povos, culturalmente diferenciados, aprenderam a conviver com os desafios da floresta, aprenderam suas leis e as divulgaram através de lendas, passadas atravé da tradição oral de geração para geração. Lendas que ensinavam o respeito às tradições, à natureza e seus elementos. Estes povos erroneamente chamados de primitivos têm muito a nos ensinar de seu conhecimento ancestral. Considerando que cada povo tem as suas lendas atreladas ao cotidiano, à fauna e flora locais podemos imaginar o número fantástico de lendas Amazônicas tendo em vista a sua enorme biodiversidade e pluralismo étnico-cultural.

O Índio convivendo diretamente com a natureza foi fortalecendo esta ligação cada vez mais para garantir saúde, força, coragem, abundância e fertilidade tanto para a terra como para as criações domésticas e seus própios descendentes. Identificar nos animais características ou atributos necessários a um guerreiro, é costume de todos os povos. Indígenas de diversas culturas identificam-se com alguns animais ou batizam sua tribo com o nome deles. Nas cores dos pássaros, no seu canto, na forma peculiar dos insetos, no sabor dos frutos da flora ou no aroma e beleza de suas flores encontrou o aborígene inspiração para a criação de suas lendas. 

O Japim Imitador

O japiim é uma ave que apresenta plumagem preta com amarelo (Cacicus cela) ou as vezes preta com vermelho (Cacicus haemorrhous), encontrada na América do Sul, principalmente na região Amazônica do Brasil. Todas as suas lendas possuem feições etiológicas, pois procuram explicar porque o japiim arremeda todos os pássaros e não possui canto próprio.

O Tanguru-Pará, é o único pássaro, conforme afirmação indígena, do qual o Japiim não imita o canto. Um dia, o avô do Japiim arremedou o Tanguru-Pará e este deixou o que estava fazendo, para acudir contra o Japiim e o matou. Desde então, todos os Tangurus-Pará nascem com o bico vermelho, e os japiins, que imitam o canto de todos os outros pássaros, não voltaram a imitar o canto do Tanguru-Pará. Assim escreveu Stradelli a respeito deste pássaro.

Os indígenas explicam que como alma penada, o japiim só está cumprindo seu fadário. Contam que outrora, o japiim vivia no céu cantando para o deus dos índios.

Mas, certo dia uma grande epidemia alastrou-se rapidamente pelas tribos indígenas, então, pediram a Tupã que os levassem para o céu, onde não havia doenças.

Tupã resolveu enviar à Terra o japiim para consolar os índios. Com o maravilhoso canto do pássaro, todos esqueceram suas mágoas e recomeçaram a trabalhar. A epidemia extinguiu-se e a felicidade voltou a reinar absoluta. Mas, para que tudo permanecesse bem, pediram a Tupã para que o japiim continuasse a viver entre eles. O pássaro ficou como um presente divino.

O japiim começou a ficar soberbo e a achar que era grande coisa. Quando os outros pássaros cantavam, se punha a arremedá-los, até que aborrecidos, se queixaram a Tupã. Esse, mandou chamar o japiim e pediu-lhe que parasse com aquela conduta desagradável. Mas pouco adiantou tanta conversa, pois ao retornar à Terra recomeçou a arremedar os outros pássaros.

Tupã irritou-se com seu procedimento e falou:

-"Pois de hoje em diante perderás o teu canto e só conseguirás arremedar as outras aves e elas te odiarão e te perseguirão."

Fonte: Volpatto
Amazonia Selva - Cel Eng R/1 HIRAM REIS E SILVA

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